ESTUDO QUALITATIVO ACERCA DAS VIVÊNCIAS DO DISTANCIAMENTO SOCIAL DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 E SEU IMPACTO NA SAÚDE MENTAL DE PACIENTES EM UM PEQUENO MUNICÍPIO BRASILEIRO
Resumo
Introdução: A pandemia de COVID-19 exigiu a adoção generalizada de intervenções não farmacológicas, destacando-se o distanciamento social como medida central recomendada pelas autoridades sanitárias globais. Embora eficaz na redução da transmissão viral, o prolongamento dessa estratégia associou-se a repercussões psicossociais e econômicas significativas, incluindo aumento da ansiedade, isolamento social e interrupções no acesso aos serviços de saúde. No Brasil—onde as políticas de mitigação foram descentralizadas e implementadas de forma heterogênea—as disparidades regionais nas experiências pandêmicas demandam investigação mais aprofundada. Objetivo: Este estudo qualitativo investiga as experiências vividas por pacientes de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em um pequeno município brasileiro, com foco nas consequências psicossociais, econômicas e relacionadas à saúde das medidas de distanciamento social durante a pandemia. Métodos: Entrevistas semiestruturadas foram realizadas com 19 pacientes da UBS entre maio e dezembro de 2021. As entrevistas foram gravadas em áudio, transcritas literalmente e submetidas à análise temática por meio de codificação linha a linha. Resultados: Dezenove pacientes participaram do estudo. A análise revelou três grandes temas diretamente relacionados às medidas de isolamento social: I) Impacto socioeconômico durante a pandemia de COVID-19; II) Experiências e percepções dos pacientes sobre os serviços de saúde durante a COVID-19; e III) Impacto do distanciamento social na saúde mental dos pacientes. Em alguns casos, o distanciamento social intensificou problemas de saúde mental devido ao isolamento e à falta de interação social, especialmente com amigos e familiares. A maioria dos pacientes relatou sentimentos de medo, ansiedade e preocupação com suas próprias vidas e as de seus familiares. Além da falta de interação social e das mudanças na rotina, a insegurança econômica surgiu como uma causa subjacente desse estado mental. Vários participantes expressaram preocupação ao precisarem interromper suas atividades, o que levou à redução de renda. Os participantes relataram que algumas interrupções nos cuidados de saúde ocorreram por medo de contaminação nos ambientes de saúde e pela suspensão de serviços eletivos. Houve aprovação em relação às informações prestadas pelos profissionais de saúde durante a pandemia, embora tenha sido observado que esses profissionais deveriam ter estado mais preparados para lidar com a situação. Conclusão: Este estudo revela que mesmo comunidades rurais com restrições menos rigorosas durante a COVID-19 sofreram impactos significativos na saúde mental e acesso a serviços de saúde. As medidas de controle, embora eficazes contra a transmissão viral, geraram consequências psicossociais e interrupção de cuidados essenciais. Os achados destacam a necessidade urgente de: (1) integrar saúde mental na atenção primária; (2) implementar monitoramento ativo de populações vulneráveis; e (3) desenvolver protocolos que previnam a descontinuidade de cuidados em futuras emergências. Os resultados reforçam a importância de abordagens equilibradas que considerem tanto o controle de infecções quanto a proteção do bem-estar psicossocial, especialmente em comunidades rurais.
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