INTELECTUAIS NA IMPRENSA: AS CRÔNICAS DE EDUCAÇÃO DE CECÍLIA MEIRELES NO JORNAL CARIOCA DIÁRIO DE NOTÍCIAS - Doi: http://dx.doi.org/10.5212/Uniletras.v.31i1.139153
DOI:
https://doi.org/10.5212/uniletras.v31i1.672Abstract
No Brasil de pré e pós-revolução de 1930, os discursos que privilegiaram a educação como condição necessária e essencial para se atingir a modernidade que o país buscava foram numerosos e, por vezes, contraditórios. A imprensa e os intelectuais que dela se serviram para estabelecer suas posições e suas ideologias em relação aos projetos educacionais que então se definiam, exerceram um papel de grande importância na divulgação de ideais pedagógicos e na reivindicação de novas políticas educacionais. Nesta década, o pais atravessava um dos momentos mais conturbados nos campos da política e da educação. No âmbito educacional destacaram-se dois grupos que disputavam a hegemonia do sistema escolar: de um lado os Católicos que reivindicavam, entre outras coisas, o ensino religioso obrigatório nas escolas. De outro, um grupo que acabara de se constituir e procurava se afirmar dentro deste espaço. Este, que mais tarde ficou conhecido como os Pioneiros da Educação Nova, diferentemente dos Católicos, defendia principalmente a laicização e a nacionalização do ensino. Para ambos os grupos a imprensa atuou como um lugar de debate no qual as diferentes matrizes discursivas não só estimularam com também promoveram o confronto de interesses e idéias. No entanto esses discursos, ainda que na defesa de alguns pressupostos, divergissem, tiveram como foco principal sensibilizar a sociedade e o governo para a necessidade de uma ampla reforma no sistema de ensino brasileiro. Assim, o objetivo desse trabalho é o estudo histórico das idéias e do envolvimento político educacional de Cecília Meireles no Movimento pela Escola Nova, através da análise da sua produção jornalística no jornal carioca “Diário de Notícias”, entre os anos de 1930 a 1933. Nesses anos Cecília dirigiu um espaço de publicação diária destinada a assuntos educacionais: a Página de Educação. Nesta, havia uma coluna para os seus Comentários (aproximadamente 800 textos produzidos ao longo de 3 anos), titulo de uma série de crônicas, escritas com a mesma leveza e sensibilidade estética próprias da poeta. Todos os dias Cecília abordava um tema referente à educação. Pelos seus Comentários, tornou público seu próprio ideal pedagógico, assim como se utilizou deste espaço para difundir e defender a ideologia do grupo Pioneiro que, como educadora e cronista, ali representava. Seus discursos permitem "gestos de interpretação" não somente quanto aos pressupostos da Escola Nova, mas também quanto aos lugares ocupados pelos diferentes sujeitos, naquele momento específico da nossa história. Esse seu trabalho na imprensa, fazendo entrevistas, discutindo problemas relativos à educação, expondo o que a seu ver seria o melhor encaminhamento para as políticas educacionais que se pleiteava, questionando as ações do governo Vargas ou as reformas instituídas por Francisco Campos, então seu Ministro da Educação, além de ter sido um importante veículo de divulgação da filosofia adotada pelo Movimento Renovador, permite compreender a articulação e o papel dos intelectuais na configuração da sociedade brasileira.
Embora ela própria, assim como outros renovadores, tenha se empenhado ao máximo para esclarecer professores e a opinião pública sobre as possibilidades que a sua leitura da nova pedagogia poderia oferecer à educação o grupo, ao longo de alguns anos, foi se desfazendo. De certa maneira, os católicos saíram vitoriosos na Constituinte e os pioneiros ficaram isolados tanto dentro como fora da esfera governamental. Apesar de todos os esforços, a força dos renovadores não foi suficiente para produzir as alterações que desejavam naquele momento; contudo, os pressupostos por eles defendidos, imortalizados em suas obras e no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, deixaram marcas profundas que puderam ser sentidas ao longo das próximas décadas, e permanecem vivos até os nossos dias.
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