Renato Kehl e o radicalismo eugênico no Brasil dos anos 1930: uma análise a partir da obra Sexo e civilização: aparas eugênicas (1933)
DOI:
https://doi.org/10.5212/Rev.Hist.Reg.v.29.23710Palavras-chave:
Renato Kehl. Eugenia. Brasil. Esterilização Eugênica. Miscigenação Racial.Resumo
O objetivo deste artigo é analisar o radicalismo eugênico no Brasil dos anos 1930, com destaque para as ideias defendidas por Renato Kehl em seu livro Sexo e civilização: aparas eugênicas, publicado em 1933. Considerado a principal liderança do movimento eugênico brasileiro, Kehl também foi o eugenista que melhor sintetizou o extremismo das práticas eugênicas, caracterizado pela defesa de medidas violentas de segregação racial e controle da reprodução humana. Busco compreender especialmente o diálogo de Renato Kehl com as ideias e projetos intelectuais e políticos em jogo durante a década de 1930, atentando tanto para o contexto nacional quanto internacional. Neste sentido, analiso a publicação de Sexo e civilização como resultado dos diálogos e articulações de Kehl com a eugenia negativa de países como a Alemanha e Estados Unidos, ao mesmo tempo que coloco sua obra em perspectiva com os projetos e as ideologias em disputa durante o governo Vargas. Estes contextos são explorados a partir das discussões promovidas por Renato Kehl em torno de dois paradigmas centrais na história da eugenia: a esterilização eugênica e a miscigenação racial.
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