A escuta não-revitimizante de meninas vítimas de violência sexual: uma questão política de acesso à justiça
Conteúdo do artigo principal
Resumo
O texto analisa o impacto da Lei argentina nº 25.852, de 2003, artigo 250 bis e ter do Código Nacional de Processo Penal, primeira normativa na América do Sul sobre escuta especializada de meninas, meninos e adolescentes vítimas de violências sexuais, crescentes em escala mundial. Na análise de 27 sentenças sobre crimes sexuais, majoritariamente contra meninas, observou-se uma mudança na cultura institucional dos tribunais. No viés sociopolítico do acesso à justiça, constataram-se problemas na incorporação da norma,
como a apropriação diferenciada pelos juízes e as assimetrias enraizadas em desigualdades históricas entre homens e mulheres. Vislumbrou-se uma transição do formato jurídico tradicional ancorado no juiz, que inquere e julga para outro, de uma escuta respeitosa, não sem controvérsias, a cargo de profissionais especializados. Considerou-se que a normativa instaura um
novo paradigma de acesso à justiça para crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, gatilho para consolidar nova jurisprudência sobre crimes sexuais contra meninas e mulheres.
Downloads
Detalhes do artigo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a) Os autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR) que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da sua autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Esta revista proporciona acesso público a todo o seu conteúdo, uma vez que isso permite uma maior visibilidade e alcance dos artigos e resenhas publicados. Para maiores informações sobre esta abordagem, visite Public Knowledge Project, projeto que desenvolveu este sistema para melhorar a qualidade acadêmica e pública da pesquisa, distribuindo o OJS assim como outros softwares de apoio ao sistema de publicação de acesso público a fontes acadêmicas. Os nomes e endereços de e-mail neste site serão usados exclusivamente para os propósitos da revista, não estando disponíveis para outros fins.
This journal provides open any other party.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR.
Referências
ARGENTINA. Código Civil y Comercial de la Nación. Lei n.º 26.994, de 2014. Buenos Aires, 2014. Disponível em: https://servicios.infoleg.gob.ar/infolegInternet/anexos/235000-239999/235975/texact.htm. Acesso em: 24 mar. 2025.
ARGENTINA. Código Penal de la Nación Argentina. Lei n.º 25.087, de 1999. Delitos contra la integridad sexual. Modificação. Disponível em: http://servicios.infoleg.gob.ar/infolegInternet/anexos/55000-59999/57556/norma.htm. Acesso em: 21 mar. 2025.
ARGENTINA. Código Procesal Penal. Artigos 250 bis e ter. Disponível em: https://servicios.infoleg.gob.ar/infolegInternet/anexos/0-4999/383/texact.htm. Acesso em: 21 mar. 2025.
ARGENTINA. Código Procesal Penal de la Nación. Lei n.º 25.852, de 2003. Disponível em: https://servicios.infoleg.gob.ar/infolegInternet/anexos/90000-94999/91600/norma.htm. Acesso em: 21 mar. 2025.
ARGENTINA. Código Civil. Lei n.º 10.903, de 1919. Patronato de Menores. Poder Executivo Nacional (P.E.N.). Disponível em: https://www.infoleg.gob.ar/?page_id=216&id=7711. Acesso em: 24 mar. 2025.
ARGENTINA. Constitución de la Nación Argentina. Buenos Aires, 23 ago. 1994. Art. 75. Disponível em: https://www.congreso.gob.ar/constitucionSeccion1Cap4.php. Acesso em: 24 mar. 2025.
ARGENTINA. Ley de Protección Integral de los Derechos de las Niñas, Niños y Adolescentes. Lei n.º 26.061, de 2005. Buenos Aires, 2005. Disponível em: https://www.argentina.gob.ar/normativa/nacional/ley-26061-110778/texto. Acesso em: 24 mar. 2025.
ARGENTINA. Ley Orgánica del Ministerio Público Fiscal de la Nación. Lei n.º 27.148, de 2015. Buenos Aires, 2018. Disponível em: https://www.mpf.gob.ar/wp-content/uploads/2018/08/Ley_organica_2018.pdf. Acesso em: 24 mar. 2025.
ARGENTINA. Ley n.º 23.849. Aprueba la Convención sobre los Derechos del Niño. Buenos Aires, 1990. Disponível em: https://www.argentina.gob.ar/normativa/nacional/ley-23849-249/texto. Acesso em: 24 mar. 2025.
BELOFF, M. El menor de edad víctima en el proceso judicial: garantías procesales y deberes de prestación positiva del Estado. Jufejus ADC/Unicef, 2010.
BIRGIN, H.; KOHEN, B. Acceso a la justicia como garantía de igualdad: Instituciones, actores y experiencias comparadas. Buenos Aires: Biblos, 2006.
BOURDIEU, P. La fuerza del derecho. Pierre Bourdieu y Gunther Teubner; estudio preliminar. Bogotá, 2000.
BOLTANSKI, L.; CHIAPELLO, E. Le nouvel esprit du capitalisme. Paris: Gallimard, 1999.
CAPPELLETTI, M.; GARTH, B. Acesso à justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1988.
CAPPELLETTI, M.; GARTH, B. El acceso a la justicia: la tendencia en el Movimiento mundial para hacer efectivos los derechos. México: Fondo de Cultura Económica, 1996.
CASTEL, R. La gestión de los riesgos: De la antipsiquiatría al postanálisis. Barcelona: Anagrama, 1984.
CEDAW. Convenção pela Eliminação da Discriminação contra Meninas e Mulheres. Recomendações da CEDAW: relatório 2024. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/wpcontent/uploads/2024/06/Recomenda%C3%A7%C3%B5es-da-CEDAW-2024-Portugu%C3%AAs.pdf. Acesso em: 20 mar. 2025.
CIORDIA, C.; VILLALTA, C. Procedimientos judiciales y administrativos de adopción de niños: confrontación de sentidos en la configuración de un ‘medio familiar adecuado’. ETNOGRÁFICA, v. 16, n. 3, p. 435-460, 2012.
DOGMÁTICA JURÍDICO-PENAL, POLÍTICA CRIMINAL E CRIMINOLOGIA. JusBrasil, 2016. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/dogmatica-juridico-penal-politica-criminal-ecriminologia/324816043. Acesso em: 24 mar. 2025.
DONZELOT, J. La policía de las familias. Valencia: Pre-Textos, 1998.
DOS SANTOS, B. R.; VIANA, V. N.; GONÇALVES, I. B. Crianças e Adolescentes vítimas e testemunhas de violência sexual: metodologias para tomada de depoimento especial. Curitiba: Appris, 2017.
DOS SANTOS et al. Cartografia Nacional das Experiências Alternativas de Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes em Processos Judiciais no Brasil: o estado da arte. São Paulo: Childhood Brasil; Editora da Universidade Católica de Brasília, 2013.
ECONOMIDES, K. Lendo as ondas do Movimento de Acesso à Justiça: epistemologia versus metodologia? In: CIDADANIA, justiça e violência. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999. p. 61–76.
FOUCAULT, M. Vigilar y castigar: nacimiento de la prisión. Madrid: Siglo XXI, 1992.
GARCÍA MÉNDEZ, E. Infancia, ley y democracia: una cuestión de justicia. 1998. Disponível em: https://iin.oea.org/Cursos_a_distancia/infancia_ley_y_democracia.pdf. Acesso em: 24 mar. 2025.
GRINBERG, J. La recepción de “los derechos del niño” en Argentina: trayectorias de activistas y conformación de una nueva causa en torno a la infancia. Revista de Antropología y Sociología Virajes, v. 15, n. 1, p. 299-325, 2013.
HOOKS, B. Anseios: raça, gênero e políticas culturais. São Paulo: Elefante, 2019.
LEFEBVRE, A. Una nueva imagen de la Ley: Deleuze y la jurisprudencia. University of Sydney, 2016. Disponível em: https://revistas.unne.edu.ar/index.php/nit/article/view/644. Acesso em: 25 mar. 2025.
MANNHEIM, K. Ideología e utopía: introducción a la sociología del conocimiento. México: Fondo de Cultura Económica, 1993.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Devastadoramente generalizada: 1 em cada 3 mulheres em todo o mundo sofre violência. 2021. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/9-3-2021-devastadoramente-generalizada-1-em-cada-3-mulheres-em-todo-mundo-sofre-violencia. Acesso em: 3 abr. 2025.
ROZANSKI, C. Abuso sexual infantil: denunciar o silenciar. Buenos Aires: B Ediciones, 2003.
SADEK, T. Acesso à justiça, um direito, seus obstáculos. Revista USP, São Paulo, n. 101, p. 55-66, mar./abr./maio 2014. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/87814. Acesso em: 25 mar. 2025.
SANTOS, B. de S. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1996. p. 168-171.
SARTORI, G. From the sociology of politics to political sociology. In: LIPSET, S. M. (ed.). Politics and the social sciences. New York: Oxford University Press, 1969.
SEMERARO, G. M. O mito da universalidade do Sistema Penal. 2019. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/justica/o-mito-da-universalidade-do-sistema-penal/. Acesso em: 25 mar. 2025.
SEDEILLÁN, G. Los delitos sexuales: la ley y la práctica judicial en la provincia de Buenos Aires durante el período de codificación del derecho penal argentino (1877-1892). História Crítica, n. 37, p. 100-119, 2009.
SEDRONAR. Manual de conceptos y herramientas para la investigación sobre consumos de sustancias psicoactivas.2021.Disponível em: https://www.argentina.gob.ar/sites/default/files/manual_de_conceptos_y_herramientas_para_la_investigacion_sobre_el_consumo_de_sustancias_psicoactivas.pdf. Acesso em: 21. mar.2025
SILVA, L.; LIONÇO, T. Cuidados éticos na pesquisa social: entre normas e reflexões críticas. Amazônica – Revista de Antropologia (Online), v. 10, n. 2, p. 588-609, 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpa.br/index.php/amazonica/article/view/6519/5249. Acesso em: 21 mar. 2025.
UNICEF ARGENTINA. Más de 370 millones de niñas y mujeres en todo el mundo se ven sometidas a violaciones y abusos sexuales en la infancia. Comunicado de prensa, 2024. Disponível em: https://www.unicef.org/argentina/comunicados-prensa/370-millones-ninas-mujeres-violencia. Acesso em: 20 mar. 2025.
UNICEF ARGENTINA. Asistencia legal y acompañamiento de niñas, niños y adolescentes víctimas de abuso sexual. [S. d.]. Disponível em: https://www.unicef.org/argentina/asistencia-legal-yacompa%C3%B1amiento-de-ninias-ninios-y-adolescentes-victimas-abuso. Acesso em: 24 mar. 2025.
UNICEF; SIEMPRO. Encuesta Nacional de Niñas, Niños y Adolescentes (MICS) 2019-2020. 2021.Disponível em: https://www.unicef.org/argentina/media/12071/file/MICS%202019-2020.pdf. Acesso em: 20 mar. 2025.
UNICEF ARGENTINA. Acceso a la justicia: abusos sexuales y embarazos forzados en niñas y adolescentes menores de 15 años. Documento técnico n. 6. Buenos Aires: UNICEF Argentina, nov. 2019. Disponível em: https://www.unicef.org/argentina/media/7211/file/Acceso%20a%20la%20Justicia.pdf. Acesso em: 20 mar. 2025.
UNITED NATIONS. SPECIAL REPRESENTATIVE OF THE SECRETARY-GENERAL ON VIOLENCE AGAINST
CHILDREN. Safeguarding the Rights of Girls in the Criminal Justice System: Preventing Violence, Stigmatization and Deprivation of Liberty. New York, 2015. Disponível em: https://sdgs.un.org/sites/default/files/publications/2580safeguarding_the_rights_of_girls_in_the_criminal_justice_system.pdf. Acesso em: 20 mar. 2025.
UN WOMEN. Voices Against Violence. 2013. Disponível em: https://www.unwomen.org/sites/default/files/Headquarters/Attachments/Sections/Library/Publications/2013/10/
VoicesAgainstViolence-Handbook-en%20pdf.pdf. Acesso em: 20 mar. 2025.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Qualitative Research for Health Programmes. Geneva: WHO, 1994. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/62315. Acesso em: 20 mar. 2025.
VIANNA, . de R. Considerações a partir de processos de guarda de crianças e adolescentes. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA, 27, 2010, Porto Seguro. Anais [...]. Porto Seguro: ABA, 2010. Disponível em: https://www.abant.org.br/files/CAP-000032762234.pdf. Acesso em 03 abr. 2025.
VIANNA, A. de R.B. Quem deve guardar as crianças? Dimensões tutelares da gestão contemporânea da infância. In: SOUZA LIMA, A. C. de (org.). Gestar e gerir: estudos para uma antropologia da administração pública no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002. p. 271–311.
VIANA, V.N. Ley N°25852: acceso a la justicia para niñas, niños y adolescentes víctimas y testigos, cambios en los procesos penales a raíz del nuevo paradigma no revictimizante de escucha judicial. Maestría En Estudios Políticos . Universidad Nacional De Rosario Facultad de Ciencias Políticas y Relaciones Internacionales. 2019. 127p.
VILLALTA, C. La administración de la infancia en debate: entre tensiones y reconfiguraciones institucionales. Estudios en Antropología Social, v. 1, n. 2, p. 81-99, 2010. Disponível em: https://www.aacademica.org/carla.villalta/54.pdf. Acesso em: 24 mar. 2025.
ZAFFARONI, E. R. Estructura básica del derecho penal. Buenos Aires: EDIAR, 2009.