Na contramão dos tempos: jovens brasileiros, visões da história e a política de cotas
Resumen
A colonização do pensamento atinge não apenas as maneiras como os textos são elaborados. Se Abya Yala (termo adotado como postura política pelos povos originários a partir do início do século XXI para contrapor o nome América) foi descoberta, conquistada ou invadida, esse é um dos níveis de disputa, que compete à narrativa. Além dele, existem outras instâncias de manifestação desses discursos. Nesse artigo buscamos analisar a força dos discursos que corroboram para a construção de pensamentos colonizados. Refletimos sobre o impacto desses discursos na construção de sentido de jovens estudantes de Ensino Médio no Brasil (em sua maioria residentes nos estados do Paraná e da Bahia) acerca do passado, do presente e do futuro. Nossa investigação se divide, efetivamente, em três miradas: ao passado, ao futuro, e ao presente. Começamos por investigar concepções dos jovens sobre determinados períodos históricos que são cruzados por interpretações eurocêntricas já canônicas. Depois disso, investigamos suas concepções sobre o sentido e as funções da história. Por fim, procuramos entender se há relação entre os resultados anteriores e as concepções dos jovens sobre ações concretas do presente. Para isso, investigamos o resultado de 3.694 respostas a um questionário quantitativo aplicado no ano de 2019 a jovens do Ensino Médio, por meio do projeto Residente: observatório das relações entre jovens e política na América Latina. Os resultados apontam que há resistências ao discurso histórico eurocentrado na análise das narrativas históricas e do posicionamento sobre política de cotas, mas que essa resistência não tem eco nas concepções dos jovens sobre o sentido da história, apesar de haver nuances que apontam para uma valorização da função da história por parte daqueles que concordam com narrativas de resistência.
Citas
BAROM, Wilian Carlos Cipriani. Pesquisas na área do ensino da história e o software IBM SPSS Statistics: limites e possibilidades no diagnóstico do conhecimento histórico escolar em grande escala. História & Ensino, v. 25, n. 2, p. 239-268, 2020. Disponível em: <https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/36588>. Acesso em 31 mai. 2022.
BLOCH, Marc. Apologia da História: ou o ofício do historiador. São Paulo: Zahar, 158 p.
BOVO, Cláudia Regina. Por que Idade Média? Dos motivos de se ensinar História Medieval no Brasil. Em: FAUAZ, Armando Torres (ed.). La Edad Media em perspectiva latinoamericana. Costa Rica: Editora Universidade Nacional, 2018.
CERRI, Luis Fernando. Notas críticas aos argumentos contra cotas pra negros nas universidades públicas. In: FIUZA, A. F.; CONCEIÇÃO, G. H. (org.). Política, Educação e Cultura. Cascavel: EDUNIOESTE, 2008. p. 73-90.
CERRI, Luis Fernando. Dados quantitativos na reflexão didática de estudantes e professores de História. História Hoje, v. 5, n. 10, p. 138-158, 2016. Disponível em: <https://rhhj.anpuh.org/RHHJ/article/view/272>. Acesso em 31 mai. 2022.
CHEVALLARD, Ives. Sobre a teoria da transposição didática: algumas considerações introdutórias. Revista de Educação, Ciências e Matemática, v. 3, n. 2, p. 1-14, 2013. Disponível em: <http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/recm/article/view/2338>. Acesso em 31 mai. 2022.
CRUZ, Matheus Mendanha. Jovens brasileiros e a temática indígena: reflexões sobre direitos humanos, cultura histórica e interculturalidades. Orientador: Luis Fernando Cerri. Ponta Grossa, 2020. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual de Ponta Grossa 2020. Disponível em: <https://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/3327>. Acesso em 31 mai. 2022
CUESTA, Raimundo. El código disciplinar de la historia escolar em España: algunas ideas para la explicación de la sociogénesis de una materia de enseñanza. Encounters on Education, v.3, p.27-41, 2002. Disponível em: <https://ojs.library.queensu.ca/index.php/encounters/article/view/1721>. Acesso em 31 mai. 2022.
DUSSEL, Enrique. Europa, modernidad y eurocentrismo. Revista de Cultura Teológica, v. 4, p. 69-81, jul./set. 1993. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/14105/14952>. Acesso em 31 mai. 2022.
DUSSEL, Enrique. Transmodernidade e interculturalidade: interpretação a partir da filosofia da libertação, Revista Sociedade e Estado, v.31, n.1, jan./abr. 2016, p. 51-73. Disponível em: <https://periodicos.unb.br/index.php/sociedade/article/view/6079/5455>. Acesso em 31 mai. 2022.
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
HELLER, Agnes; FEHER, Ferenc. O pêndulo da modernidade. Tempo Socia: Rev. Sociol. USP: São Paulo, 6(1-2): 47-82, 1994 (editado em jun. 1995). Disponível em <https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/85044/87859 >. Acesso em 31 mai. 2022.
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções: 1789-1848. 38 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017.
HOBSBAWM, Eric. A revolução francesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2020 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2020. 130p. Disponível em <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101760.pdf>. Acesso em 31 mai. 2022.
JUNIOR, Hilário Franco. A Idade Média, nascimento do ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001.
KLÜPPEL, Giuvane de Souza; CRUZ, Matheus Mendanha; CERRI, Luis Fernando. Jovens, uma “nova” nova direita e suas esquerdas: um estudo sobre a posição política de jovens brasileiros. Revista de História da UEG, v. 10, n. 2, e022108. Disponível em: <https://www.revista.ueg.br/index.php/revistahistoria/article/view/11603>. Acesso em 31 mai. 2022.
KLÜPPEL, Giuvane de Souza. Nas fronteiras da nação: relações entre identidade nacional e discursos sobre a história o Brasil construídos por jovens da cidade de Ponta Grossa – PR. Orientação: Ione da Silva Jovino; Luis Fernando Cerri. Ponta Grossa, 2021. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2021. Disponível em: <https://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/3551>. Acesso em 31 mai. 2022.
KOSELLECK, Reinhart. “Espaço de experiência” e “horizonte de expectativas”: duas categorias históricas. Em: Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos; Trad. Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto: Editora PUC Rio, 2006, p. 306-327.
KOSELLECK, Reinhart. “História” enquanto conceito mestre moderno. Em: O conceito de História. Tradução de René Gertz. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013, p. 185-222.
LOPES, Alice Ribeiro Casimiro. Conhecimento escolar: ciência e cotidiano. 1999. p. 236-236.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Cabogó: 2021, 256 p.
MORENO, Jean Carlos. O tempo colonizado: um embate central para o ensino de História do Brasil. InterMeio: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação, Campo Grande, v.25, n;49.1, p.97-117. 2019. Disponível em: <https://periodicos.ufms.br/index.php/intm/article/view/9343>. Acesso em 31 mai. 2022.
PEREIRA, Nilton Mullet. O que se faz em uma aula de história? Pensar sobre a colonialidade do tempo. Revista Pedagógica, v.20, n.45, p.16-35, set./dez. 2018. Disponível em: <https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/pedagogica/article/view/4512>. Acesso em 31 mai. 2022.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Entre América e Abya Yala – tensões de territorialidades. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, v. 20, p. 25-30, jul./dez. 2009. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/made/article/view/16231>. Acesso em 31 mai. 2022.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, cultura, y conocimiento en América Latina. Ecuador Debate, Quito, v. 44, p. 227-238, ago. 1998.
SETH, Sanjay. Razão ou Raciocínio? Clio ou Shiva?. História da historiografia, Ouro Preto, n.11, p.173-189, abr. 2013. Disponível em: <https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/554>. Acesso em 31 mai. 2022.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para descolonizar Occidente: más allá del pensamiento abismal. CLACSO, Prometeo Libros, 2010.
SOUZA, Jessé de. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. ePub.
WALLERSTEIN, Immanuel. Analise dos sistemas mundais. In: GIDDENS, Anthony; TURNER, Jonathan (Org.). Teoria Social Hoje. São Paulo: Ed. UNESP, 1999.
WALSH, Catherine. Interculturalidad y (de)colonialidad: Perspectivas críticas y políticas. Visão Global, Joaçaba, v. 15, n. 1-2, p. 61-74, jan./dez. 2012. Disponível em: <https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/visaoglobal/article/view/3412>. Acesso em 31 mai. 2022.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2022 Revista de História Regional
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a) Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da sua autoria e publicação inicial nesta revista.
b) Os autores são autorizados a assinarem contratos adicionais, separadamente, para distribuição não exclusiva da versão publicada nesta revista (por exemplo, em repositórios institucionais ou capítulos de livros), com reconhecimento da sua autoria e publicação inicial nesta revista).
c) Os autores são estimulados a publicar e distribuir a versão onlline do artigo (por exemplo, em repositórios institucionais ou em sua página pessoal), considerando que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e as citações do artigo publicado.
d) Esta revista proporciona acesso público a todo o seu conteúdo, uma vez que isso permite uma maior visibilidade e alcance dos artigos e resenhas publicados. Para maiores informações sobre esta abordagem, visite Public Knowledge Project, projeto que desenvolveu este sistema para melhorar a qualidade acadêmica e pública da pesquisa, distribuindo o OJS assim como outros softwares de apoio ao sistema de publicação de acesso público a fontes acadêmicas.
e) Os nomes e endereços de e-mail neste site serão usados exclusivamente para os propósitos da revista, não estando disponíveis para outros fins.
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Este obra está bajo una licencia de Creative Commons Reconocimiento 4.0 Internacional.