Entre a loucura e o demoníaco: o discurso contra o espiritismo nas linhas do jornal Santuário da Trindade em Goiás na década de 1920

Resumo

O combate ao espiritismo na virada do século XIX para o XX no Brasil está permeado não somente de razões e motivações religiosas, mas fundamentalmente sociais e políticas. A ascensão da medicina psiquiátrica brasileira, concomitante ao próprio espiritismo, uniu-se ao contexto católico de crise pós-padroado no qual a Igreja não só deveria se desdobrar por recursos financeiros aquém do Estado, como também no combate a seus adversários religiosos, que, por força de lei, eram oficialmente agora aceitos no país. Neste contexto, a união entre os discursos médico e católico contra um inimigo comum, o espiritismo, se tornou evidente quando se tratou da garantia da soberania de ambos como classe legitimamente portadora tanto da qualidade de verdadeira religião, quanto de verdadeira ciência. Em Goiás, no entanto, a ausência de uma classe médica forte deu ao catolicismo a possibilidade de ser o paladino deste combate, fazendo-o, de modo especial, na década de 1920, através do jornal Santuário da Trindade, editado em Campinas pela Ordem Redentorista. Em vistas disso, o presente artigo tem como objeto de análise o discurso de combate ao espiritismo pelo referido periódico católico, tomando como ponto de partida principal a união de seus argumentos religiosos com os argumentos médicos-psiquiátricos desenvolvidos em todo o Brasil nas primeiras décadas do século XX.