Apresentação - Formação profissional e Serviço Social
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Resumo
Não é pretensão deste dossiê tratar da história do Serviço Social no Paraná. Entretanto, não se pode deixar de mencionar aqui, dado o teor da discussão que se pretende no texto em termos de formação profissional, que da mesma forma que o Serviço Social no Brasil tem seu processo de institucionalização arraigado à década de 1930 durante o governo de Getúlio Vargas e estreitamente vinculado à Igreja Católica, o mesmo ocorre no Estado do Paraná. Isso se evidencia a partir da transição de uma economia ligada à agricultura para a expansão industrial-urbana.
Neste sentido, as expressões da questão social e a classe trabalhadora emergente parte imprescindível desse cenário histórico, social e político acentuam as bases de formação do Serviço Social no Paraná, o qual está ainda fortemente enraizado na tradição religiosa. É deste modo que surge a primeira Escola de Serviço Social em Curitiba, ligada à chamada Ação Social do Paraná e permanecendo sob sua tutela até 1952. Na sequência, em 1959, a Escola foi formalmente anexada à Universidade Católica do Paraná.
Sendo assim, o Serviço Social enquanto curso de graduação tornou-se uma realidade constituída historicamente no Paraná, como apontou Odaria Battini no IV Congresso Paranaense de Assistentes Sociais: refletir sobre a origem da institucionalização no Serviço Social leva-nos a “enraizar o projeto ético-político do Serviço Social apreendendo a sua história no interior dos projetos societários presentes na sociedade paranaense, em seus modos de ser e de se constituir”, bem como “resgatar a sua trajetória no Paraná decifrando o modo pelo qual a profissão cultiva a cultura, a crítica e a capacidade de formular, recriar e avaliar propostas que apontem para a progressiva democratização das relações sociais, com vistas ao trabalho emancipado”. (Battini, 2012)1
A partir de então, já sob as bases das universidades públicas no Paraná, os cursos de Serviço Social têm desempenhado, ao longo das últimas décadas, uma importância fundamental no processo de desenvolvimento social e humano local e regional. Com a criação dos primeiros cursos de Serviço Social (UEPG e UEL) no âmbito das universidades públicas do Estado, no início dos anos 1970, bem como dos subsequentes cursos nos anos seguintes, eles têm se caracterizado pela geração de conhecimento científico e social, prestação de serviços à comunidade e qualificação profissional de ponta.
O Curso de Serviço Social da UEPG, implementado em 1973, tem acompanhado o debate teórico-crítico que fundamenta o processo de formação profissional dos Assistentes Sociais em nível nacional. Neste processo, a formação está alicerçada nos valores ético-políticos construídos historicamente e defendidos pelo conjunto dos órgãos representativos da categoria, ou seja, o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).
A defesa da democracia, da justiça social, da emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais, e dos direitos humanos alicerça o projeto pedagógico de formação acadêmica e profissional no curso de Serviço Social da UEPG.
Em âmbito estadual, os Cursos de Serviço Social estão alinhados às lutas, aos avanços e às conquistas da categoria profissional no enfrentamento das expressões da questão social, na consolidação das políticas públicas, na expansão dos espaços democráticos de participação popular e na garantia dos direitos da classe trabalhadora. Esses aspectos ganham expressão particular no Estado do Paraná.
Desse modo, os cursos de Serviço Social do Estado do Paraná têm muito a contribuir com o debate sobre a formação profissional. A articulação entre Ensino, Pesquisa e Extensão garante qualidade ao processo e amplia suas possibilidades, especialmente quanto ao compromisso de socialização do conhecimento produzido na academia e ao desenvolvimento de práticas que respondam às demandas sociais e comunitárias nas suas regiões de abrangência.
Assim, essa foi a essência da concretização deste dossiê, que objetivou fomentar a produção e socialização de conhecimentos sobre as trajetórias dos Cursos de Serviço Social das Instituições de Ensino Superior do Paraná. Ele destaca sua importância científica-social, suas bases políticas de luta pelos direitos humanos e sociais, bem como sua formação sólida, alicerçada em uma base profissional comprometida com a população.
As temáticas trabalhadas pelos autores e autoras que compõem o dossiê abarcam questões como: a articulação das dimensões do Ensino, Pesquisa e Extensão e seu impacto no processo de formação do Assistente Social; as reformulações curriculares e avanços quanto ao debate sobre o processo de formação profissional; e as repercussões do processo de formação na relação com a sociedade, com a própria categoria profissional, com as políticas públicas e garantia de direitos.
Para o Curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa, organizar este dossiê quando celebra seus 50 anos de formação acadêmico-profissional é motivo de entusiasmo ao perceber como o Paraná tem cumprido seu papel social na história. Constatamos que muitos desafios foram superados e que a expansão profissional e acadêmica do Serviço Social é uma realidade presente nas universidades paranaenses.
Entretanto, temos muitos desafios pela frente. Os últimos anos, tanto no cenário nacional quanto internacional, mostraram um revés histórico contraditório, complexo e preocupante quando vemos emergir espectros políticos que reverberam no crescimento de ideários extremistas e conservadores em diferentes instâncias sociais. Isso tem levado até mesmo à perda de direitos sociais já conquistados, como a liberdade e a democracia.
São “velhos tempos novos” a serem enfrentados nas próximas décadas. E, parafraseando Hobsbawm (2009)2, que anteviu de forma brilhante os dilemas do novo século, é crucial entender o passado como o enredo do presente e do futuro. Nesse sentido, como podemos pensar o Serviço Social do futuro? Que perspectivas temos para as Escolas de Serviço Social do Paraná para as próximas décadas? Esta é, sem dúvida, uma questão que precisamos ter em mente para continuarmos na luta pela garantia dos direitos sociais e humanos, calcados em uma formação profissional de qualidade.
São inúmeros os desafios enfrentados pelo Serviço Social na perspectiva de formação profissional: 1) Como lidar com as contradições de uma sociedade cada vez mais tecnológica e digital e, ao mesmo tempo, tão excludente, em que milhões de brasileiros ainda têm dificuldades para se alimentar de forma segura? 2) Como “ensinar” na academia o discente depois de formado a enfrentar uma demanda extenuante de trabalho no cotidiano da prática profissional, considerando a crescente escassez de recursos devido aos projetos neoliberais? 3) Como preparar a formação profissional para as próximas décadas diante das chamadas inovações tecnológicas? Que novas expressões da questão social teremos por vir?
Enfim, são muitas as perguntas que se apresentam como desafios para pensarmos nas próximas gerações de Assistentes Sociais, e este dossiê traz algumas reflexões que podem nos auxiliar agora para pensarmos o futuro.
Pensar o futuro na sociedade e na academia sempre envolve a articulação entre o tripé ensino, pesquisa e extensão. Este é, sem dúvida, um apontamento seguro para traçar caminhos futuros. Temos observado na extensão, por exemplo, uma busca permanente pela inclusão crescente entre a universidade e a comunidade através da curricularização da extensão.
A ideia da curricularização, que já completa pelo menos três décadas de discussão, traz como meta consolidar a aproximação entre os sujeitos históricos e a função social da universidade. A não elitização do ensino é um alvo importante que as universidades públicas têm procurado vencer de maneira crescente, abrindo suas portas para as camadas populares que antes não tinham acesso a elas. A pesquisa, por sua vez, deve continuamente ter a função de universalizar o conhecimento científico e transformar a vida das pessoas.
Pensar no processo de formação do Serviço Social para as próximas décadas deve centrar-se em amarrar e estreitar os laços entre sociedade e universidade no processo de formação profissional, não somente do Serviço Social, mas de todas as profissões. É fazer com que a comunidade seja integrada à universidade e que, cada vez mais, os discentes possam compreender e saber agir com expertise para a transformação social.
Finalizando, agradecemos a todas as pessoas envolvidas na edição deste dossiê: docentes e discentes da graduação e pós-graduação, organizadores, avaliadores e editores da Revista Emancipação. Agradecemos também o apoio do Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas.
Em especial, demonstramos nosso reconhecimento aos autores e autoras deste dossiê, que acreditaram na proposta de pensarmos o Serviço Social no Paraná.
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Referências
Battini, Odária. A História do Serviço Social na História do Paraná. IV Congresso Paranaense de Assistentes Sociais (2009). Texto publicado em CRESS-PR - https://cresspr.org.br/2012/08/29/a-historia-do-servico-social-na-historia-do-parana/
Hobsbawm, Eric. O novo século. Entrevista a Antonio Polito. Companhia de Bolso, 2009.