Chamada para Artigos - Dossiê: "História das infâncias e juventudes na América Latina: experiências, discursos e políticas sociais"
Segue para conhecimento e divulgação a chamada do dossiê: "História das infâncias e juventudes na América Latina: experiências, discursos e políticas sociais" que irá compor o número 01 (Janeiro-Junho) de 2026 da Revista Tempo, Espaço e Linguagem. A Revista recebe também contribuições em fluxo contínuo de artigos livres, ensaios e resenhas em português, inglês e espanhol.
O dossiê História das infâncias e juventudes na América Latina: experiências, discursos e políticas sociais é tributário de atividades realizadas na última década pelo Grupo de Trabalho de História das Infâncias e Juventudes da Anpuh-nacional e pela Red de Estudios de Historia de las Infancias en América Latina (REHIAL). A proposta objetiva colocar em tela investigações nacionais e internacionais que têm como foco questões e/ou problemas vividos pelas populações infanto juvenis latino-americanas em diferentes tempos e espaços e acolherá artigos que preferencialmente buscarão analisar três eixos temáticos considerados fundamentais no referido campo: as experiências de crianças, adolescentes e jovens; políticas públicas e discursos enunciados por diferentes saberes/instituições; culturas e sociabilidades infanto juvenis a partir de seus territórios e regiões.
As temáticas das infâncias e juventudes na área da História inicialmente foram abordadas em estudos das áreas da História da Educação, da História da Família e da História das Políticas Públicas. Em função de processos ocorridos no campo dos Direitos, como o advento da Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU) e, no Brasil, a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, as populações infanto juvenis paulatinamente se configuraram como sujeitos no campo da História.
A historiografia das infâncias e juventudes enquanto campo específico de atuação e pesquisa – tanto no contexto brasileiro, quanto latino-americano – emergiu então com maior vulto na última década do século XX, no interior deste debate que na América Latina foi sendo gestado nos últimos 40 anos a partir de duas principais tensões: as semelhanças e a diferenças nos discursos e a vitimização de crianças, adolescentes e jovens.
Assim, as narrativas produzidas pelos historiadores latino-americanos reconhecem as semelhanças presentes nos discursos e políticas sociais levadas a cabo nos países e/ou regiões para as infâncias e juventudes, mas também procuram enfatizar às especificidades identificadas em função do contexto sociocultural e político no qual essas crianças, adolescentes e jovens estiveram inseridos. Não à toa, os conceitos de infância e de juventude deixaram de ser utilizados no singular, assumindo assim a pluralidade das experiências infantis e juvenis perpassadas pelos marcadores sociais de raça/etnia, relações de gênero, classe social, geração, religião, região e territorialidade. As narrativas mais recentes também têm procurado questionar a perspectiva da vitimização das crianças, adolescentes e jovens muito presente nos textos que inauguraram o campo de estudos na América Latina.
As diferentes infâncias, adolescências e juventudes e seus universos serão articulados nos artigos à luz de análises realizadas a partir das principais abordagens epistêmicas e metodológicas presentes atualmente na História das Infâncias e Juventudes. Dentre essas abordagens destacam-se: a construção das narrativas a partir de fontes que expressam interpretações das crianças, adolescentes e jovens sobre suas próprias vivências e experiências; a noção de agência social/protagonismo, participação social; as políticas, práticas e experiências em diferentes espaços educacionais com foco especial no Ensino de História; a perspectiva interseccional; a circulação e apropriação dos discursos em nível global/nacional/região; a utilização dos debates feitos a partir da ótica da biopolítica sem prejuízo de outras discussões.
Os artigos serão produzidos a partir de uma gama variada de fontes (processos jurídicos, imprensa, documentação das instituições, cartas, diários, documentação audiovisual, oralidades etc). Vale ressaltar a necessidade de problematização destes grupos sociais que compõem, em grande medida, o público alvo de nosso sistema educacional, crianças, adolescentes e jovens inseridos na educação básica ou na universidade. Destacamos ainda, que os dossiês sobre a História das Infâncias e Juventudes abertos em revistas brasileiras geralmente recebem uma grande quantidade de artigos de autoria de pesquisadores nacionais e internacionais.
Por meio dos artigos do dossiê, as crianças, adolescentes e jovens serão concebidos no plural, o que levará as leitoras e leitores da História, das Ciências Humanas e de outras áreas do conhecimento (Direito, Serviço Social, Psicologia, Educação etc.) a problematizar sobre as diferentes formas de viver e de governar as infâncias em tempos e espaços. Desta forma realizar-se-á um debate com determinada historiografia que procura tornar invisível ou desqualificar os considerados pobres e/ou portadores de práticas e valores diversos dos grupos sociais dominantes.
Por fim, mas não menos importante, as reflexões de caráter histórico contribuirão para nortear a formulação de direitos e políticas sociais na área nos diversos países da América Latina. Em momento histórico de produção e difusão de discursos conservadores as narrativas da História das Infâncias e Juventudes podem contribuir sobremaneira para que Direitos já adquiridos sejam preservados (saúde, educação escolar, socioeducação, políticas compensatórias de distribuição de renda etc.), como também para que outros sejam forjados a partir de perspectivas mais igualitárias.
A organização do dossiê será feita por Jorge Luiz Zaluski (UFS), Maria Nilvane Fernandes (UFAM) & Thiago Reisdorfer (UESP).
Submissões até: 10 de fevereiro de 2026 pelo endereço eletrônico da revista
REFERÊNCIAS
AREND, Silvia Maria Fávero; MOURA, Esmeralda B. B.; SOSENSKI, Susana. (Orgs.). Infâncias e Juventudes no século XX: Histórias Latino-Americanas. Ponta Grossa: Toda Palavra, 2018.
BECCHI, Egle; JULIA, Dominique (Dir.) Histoire de l’Enfance en Occident: Du XVIIIe siècle à nos jours. Paris: Seuil, 1996.
CARDOSO, José Carlos da Silva; SILVA, Jonathan Fachini da; MOREIRA, Paulo Roberto Staudt; SCOTT, Ana Silvia Volpi (Org.). História das Crianças no Brasil Meridional. São Leopoldo: Oikos/Unisinos, 2016.
CUNNINGHAM, Hugh. Histories of Chidhood: The American Historical Review. v 103, n.4, p. 1195-1208, 1998.
DEL PRIORE, Mary (Org.). História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 1998.
GUY, Danna. The Pan American Child Congresses, 1916 to 1942. Pan Americanism, Child Reform and Welfare State in Latin America. Jornal of Family History. Vol. 23, n. 3. p. 272-291. 1998.
LEVI, Giovanni; SCHMITT, Jean-Claude (Org.). In: História dos Jovens. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, vol 1 – 2.
LIONETTI, Lucía; COSSE, Isabella; ZAPIOLA, María Carolina (Orgs.). La historia de las infancias en América Latina. Tandil: Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires, 2018.
MORELLI, Ailton J. A questão da criança e do adolescente na historiografia paranaense. In: RENK, Valquíria Elita. (Org.). Imigração, educação e escolas étnicas no Paraná. Curitiba: PUC PRess, 2016, p. 23-51.
