MAL-ESTAR DOCENTE: UM OLHAR DAS PROFESSORAS E COORDENADORAS PEDAGÓGICAS

Bruna Caroline Camargo
Ana Paula Dworak

O presente trabalho, resultado de um Trabalho de Conclusão de curso, apresentando na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no ano de 2016, tem como objeto de estudo o mal-estar docente e a sua influência na saúde do professor. Considerando as mudança e transformações que ocorrem no cotidiano escolar e sociedade, o professor enfrenta novos desafios e funções, os quais podem influenciar no sentimento de mal-estar, bem como na sua saúde. Assim sendo, a pesquisa foi realizada com professores e coordenadoras pedagógicas da rede pública municipal de Ponta Grossa/PR, tendo-se como instrumento para a coleta de dados o questionário e entrevista. O objetivo geral desse estudo foi compreender como o mal-estar tem afetado a profissão docente. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, numa perspectiva exploratória, além de utilizar a pesquisa bibliográfica. As discussões realizadas neste trabalho estão alicerçadas em Cantos (2005), Esteve (1999), Libâneo (2004), Lima e Carvalho (2013), Mizukami (2013), Oliveira (2004). Diante disso, constatou-se que há a necessidade de novos olhares para as questões que levam a compreender a função docente, pois as intensas cargas laborais, as quais demandam muita energia, podem influenciar na saúde do professor. Além disso, verificou-se que estão a cada dia mais desmotivados e buscando novos caminhos, até mesmo com anseios de mudar de profissão. Portanto, percebe-se a necessidade de uma formação continuada mais vigorosa com esses profissionais, para que estejam prontos para lidar com essa situação, além de motiva-los e auxilia-los para que estes sentimentos não levem ao adoecimento e a desistência da profissão.

Métricas

Carregando Métricas ...

Caderno Temático

MAL-ESTAR DOCENTE: UM OLHAR DAS PROFESSORAS E COORDENADORAS PEDAGÓGICAS

Teacher malaise: A view of pedagogic teachers and pedagogical coordinators

El Malestar docente: una midarada de las profesoras y coordinadoras pedagógicas

Ana Paula Dworak
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil
Bruna Caroline Camargo
Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil

MAL-ESTAR DOCENTE: UM OLHAR DAS PROFESSORAS E COORDENADORAS PEDAGÓGICAS

Olhar de Professor, vol. 20, núm. 1, 2017

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Recepção: 03 Março 2017

Aprovação: 03 Junho 2017

Resumo: O presente trabalho, resultado de um Trabalho de Conclusão de curso, apresentando na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no ano de 2016, tem como objeto de estudo o mal-estar docente e a sua influência na saúde do professor. Considerando as mudança e transformações que ocorrem no cotidiano escolar e sociedade, o professor enfrenta novos desafios e funções, os quais podem influenciar no sentimento de mal-estar, bem como na sua saúde. Assim sendo, a pesquisa foi realizada com professores e coordenadoras pedagógicas da rede pública municipal de Ponta Grossa/PR, tendo-se como instrumento para a coleta de dados o questionário e entrevista. O objetivo geral desse estudo foi compreender como o mal-estar tem afetado a profissão docente. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, numa perspectiva exploratória, além de utilizar a pesquisa bibliográfica. As discussões realizadas neste trabalho estão alicerçadas em Cantos (2005), Esteve (1999), Libâneo (2004), Lima e Carvalho (2013), Mizukami (2013), Oliveira (2004). Diante disso, constatou-se que há a necessidade de novos olhares para as questões que levam a compreender a função docente, pois as intensas cargas laborais, as quais demandam muita energia, podem influenciar na saúde do professor. Além disso, verificou-se que estão a cada dia mais desmotivados e buscando novos caminhos, até mesmo com anseios de mudar de profissão. Portanto, percebe-se a necessidade de uma formação continuada mais vigorosa com esses profissionais, para que estejam prontos para lidar com essa situação, além de motiva-los e auxilia-los para que estes sentimentos não levem ao adoecimento e a desistência da profissão.

Palavras-chave: Mal-estar docente, Saúde do professor, Desenvolvimento profissional.

Abstract: The present work, resulting from a research of conclusion of course, and presented at the State University of Ponta Grossa, has as object of study teacher malaise and its influence on the health of the teacher. Considering the changes and transformations that happen in daily life and in society, the teacher faces new challenges and functions which can influence the feeling of malaise, as well as of his health. Therefore, the research was realized with the teachers and pedagogical coordinators of the public network of Ponta Grossa/PR, having as instrument for the collection of data the questionnaire and the interview. The general objective of this study is to understand how the malaise has affected the teaching profession. The research has had a qualitative treatment, in an exploratory perspective, in addition to using a bibliographic search. The discussions carried out in this work are based on Esteve (1999), Oliveira (2004), Libâneo (2004), Libâneo (2004),Cantos (2005), Lima and Carvalho (2013 and MizukmI (2013). On this, it was found that there is a need for new questions that lead us to the understanding of the teacher, because the intense workloads that require a lot of energy, can influence the teacher’s health. Besides that, it was found that they are increasingly unmotivated and seek new paths even the desire to change their profession. Therefore is is perceived the need of more vigorous formation for these professional to be ready to deal with this situation and to motivate them and to help them to make these feelings do not lead them to illness and to give up their profession.

Keywords: Teacher’s malaise, Teacher’s heath, Professional development.

Resumen: El presente trabajo, resultado de un Trabajo de Conclusión de curso, presentado en la Universidad Estadual de Ponta Grossa, en el año 2016, tiene como objeto de estudio el malestar docente y su influencia en la salud del profesor. Considerando los cambios y transformaciones que ocurren en el cotidiano escolar y sociedad, el profesor enfrenta nuevos desafíos y funciones, los cuales pueden influenciar en el sentimiento de malestar, así como en su salud. Así, la pesquisa fue realizada con profesores y coordinadoras pedagógicas de la red pública municipal de Ponta Grossa/PR, y tiene como instrumento para la captura de datos el cuestionario y entrevista. El objetivo general de ese estudio fue comprender cómo el malestar ha afectado la profesión docente. La pesquisa tuvo un abordaje cualitativo, en una perspectiva exploratoria, además de utilizar la pesquisa bibliográfica. Las discusiones realizadas en este trabajo están basadas en Cantos (2005), Esteve (1999), Libâneo (2004), Lima y Carvalho (2013), Mizukami (2013) y Oliveira (2004). Delante de eso, se constató que hay la necesidad de nuevas miradas a las cuestiones que llevan a comprender la función docente, pues las intensas cargas laborales, las cuales demandan mucha energía, pueden influenciar en la salud del profesor. Además, se verificó que están a cada día más desmotivados y buscando nuevos caminos, hasta con deseo de cambiar de profesión. Por tanto, se percibe la necesidad de una formación continuada más vigorosa con eses profesionales, para que estén listos para hacer frente a esa situación, sino también que los motiva y auxilia para que estos sentimientos no lleven a enfermedades y al abandono de la profesión.

Palabras clave: Malestar docente, Salud del profesor, Desarrollo profesional.

Introdução

O presente estudo busca discutir a respeito do mal-estar e a sua influência na saúde do professor, tendo em vista que muitas escolas possuem professores inativos devido à depressão, estresse físico e mental, desgastes emocionais, levando em conta que o trabalho do docente está relacionado com fatores psicossociais e interação direta com pessoas.

A educação passa por transformações profundas nos seus objetivos, nas funções e na sua organização, na tentativa de adequar-se as demandas a ela apresentada e assim se demonstra propício para o desenvolvimento de doenças emocionais que afetam ao docente e também a aprendizagem do aluno (OLIVEIRA, 2004).

Nesta perspectiva, identifica-se a existência de diversas doenças que permeiam a profissão docente dentro do ambiente educacional e que acabam interferindo nos processos de ensino-aprendizagem dos alunos e no andamento da escola, levando em conta que o profissional não se encontra em uma condição de saúde favorável, o que pode ocasionar faltas frequentes, momentos de desconforto em sala de aula, entre outros. Dessa maneira, tais elementos podem influenciar na organização do trabalho pedagógico da escola, interferindo também na aprendizagem dos alunos.

Segundo Carlotto (2002), as mudanças de contexto social demandam uma carga de estresse muito grande, pois cabe ao professor gerenciar essas mudanças no meio escolar, a profissão passa a ser vista de outra forma, pois não se trata apenas de uma atualização contínua, mas de renúncia de saberes e conteúdo que faziam parte de sua prática por anos para novas funções, novas formações, a fim de atender as demandas da sociedade atual.

A escola se torna um dos ambientes mais propícios para que ocorra o estresse, gerando o mal-estar docente. Isso está relacionado aos grandes impactos que ocorrem, que também são decorrentes das mudanças constantes das políticas públicas, tecnológicas e da globalização.

Diante disso, o objetivo geral desta pesquisa foi compreender como o mal-estar tem afetado a profissão docente. Os objetivos específicos foram identificar as principais queixas dos professores da rede pública municipal de Ponta Grossa, quanto ao trabalho e seus reflexos em sua saúde mental e física; compreender a visão dos professores e gestores acerca do mal-estar docente; e identificar como a equipe gestora realiza a mediação de professores adoecidos.

A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, utilizando-se também a pesquisa bibliográfica e documental, numa perspectiva exploratória, como aponta Gil (2008, p. 27):

Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis.

A coleta de dados foi realizada em duas escolas da rede municipal de Ponta Grossa, nos anos iniciais do ensino fundamental, em regiões distintas da cidade. Para os professores, foi aplicado um questionário com questões abertas e fechadas, nas quais estes poderiam ter uma melhor expressão para expor o ponto de vista e questões de múltipla escolha relacionadas ao tema de pesquisa. Para as coordenadoras pedagógicas, de cada escola, optamos para a realização de uma entrevista semiestruturada, na qual abordava questões sobre o trabalho pedagógico frente ao corpo docente.

Assim, depois da liberação para a coleta de dados, por parte da Secretaria Municipal de Ponta Grossa, o primeiro contato com as escolas ocorreu por meio da apresentação da pesquisa junto à direção das escolas para expor os objetivos pretendidos. Foram entregues trinta e sete (37) questionários aos professores destas escolas, no entanto, retornaram dezesseis (16). Vale ressaltar que os sujeitos da pesquisa serão identificados como P1, P2, P3...P16, para professores e G1 e G2 para as coordenadoras pedagógicas.

Fica evidente a necessidade da discussão e pesquisa no meio escolar referente ao mal-estar docente, bem como seus impactos na saúde do professor, compreendendo os anseios e sentimentos deles, levando em conta as reformas e demandas que a escola recebe e os diversos papeis que acaba exercendo para alcançar os objetivos educacionais.

O mal-estar docente

Ser professor sempre foi e será um grande desafio, pois é uma profissão que, juntamente com o cenário educacional brasileiro, vem enfrentando transformações. Além disso, há ainda a prevalência da concepção de que o professor deve ter vocação, desempenhando apenas atividades técnicas.

A profissão docente desde seus primórdios no Brasil, passa por uma carência de investimentos e de valorização, historicamente tornou-se desvalorizada e de pouco prestígio social. Alguns fatores políticos, sociais, organizacionais e históricos, tornam-se responsáveis pela precarização da profissão docente, levando o profissional a responder pelas exigências além da sua formação ou função, causando ao professor um sentimento de desqualificação e de desvalorização (OLIVEIRA, 2004).

Assim, a globalização traz um efeito estarrecedor para o professor, pois é necessário que ele esteja conectado as mudanças que ocorrem no mundo, como forma de aprofundar seus saberes e reconstruir sua prática docente. O mundo se transforma e junto dele a escola também passa por esse processo, alterando constantemente sua forma de organização e interação, atingindo voluntária ou involuntariamente o professor, como afirmam Lima e Carvalho (2013, p. 296) “[...] as transformações que ocorrem nos contextos social, cultural, político e institucional têm o impacto na escola e, consequentemente, na profissão docente.”

Diante deste cenário de mudanças e transformações, o professor, ao enfrenta-las, acaba deparando-se com situações cotidianas que podem desmotivar e desestimular a permanência na profissão. Assim sendo, as condições de trabalho podem influenciar neste processo, sendo estas interligadas a falta de estrutura nas escolas, salas superlotadas, baixa remuneração, mudanças no cenário político, entre outros.

Nesta perspectiva, a desmotivação e desestímulo diante da profissão pode ocasionar o mal-estar docente, denominado por Esteve (1999) como efeitos negativos que advém das condições pedagógicas, psicológicas e sociais que afetam a personalidade do professor, as quais estão interligadas com as mudanças ocorridas no âmbito social e múltiplas funções que este precisa desempenhar.

Em todas as profissões é possível diagnosticar cargas laborais excessivas no ambiente de trabalho, envolvendo cobranças de metas e resultados, trabalhos impecáveis e de forma sistemática, por exemplo. No entanto, a profissão docente é uma das mais atingidas por esses fatores de sobrecarga laboral, não apenas pela cobrança de resultados, mas por diversos fatores, os quais envolvem a baixa remuneração, constância de adaptação de diversas realidades etc.

Segundo Cantos (2005), a carga de trabalho dos profissionais deve ser compreendida a partir de dois setores, o campo físico e o mental, em que os dois estão intimamente ligados, pois o campo mental controla também o físico, se um não se encontra em um bom estado, o outro também será afetado:

Quando um trabalho provoca a diminuição da carga psíquica, ele torna-se fatigante, angustiante, e o reflexo desse quadro pode ser traduzido, entre outros sintomas, por palpitações, hipertensão arterial, tremores, suores, cãibras, desidratação da mucosa. Portanto, é necessário haver uma interrupção desse processo, de maneira a transformar um trabalho fatigante em prazeroso e equilibrante. (CANTOS, 2005, p. 16).

Além desses prejuízos à saúde psíquica, mencionados por Cantos (2005), é importante observar os fatores que afetam esse desempenho do trabalho e que o torna não prazeroso. Assim como em diversas profissões, os docentes também são afetados por essas múltiplas cargas físicas e mentais, principalmente devido as grandes mudanças, como já citadas acima (tecnológicas, organizacional, etc.).

Lima e Carvalho (2013) afirmam que isso ocorre em virtude da intensificação do ritmo de trabalho, o que antes se referia apenas em ensinar disciplinas, assume outras funções como assessoramento psicológico, hábitos de saúde e higiene, além da falta de autonomia, pouca infraestrutura do ambiente escolar, relações conturbadas com familiares e alunos, a baixa remuneração, desqualificação social, psicológica e biológica dos docentes. Isso acaba gerando um desgaste na profissão e um sentimento de desprofissionalização, causando mal-estar docente e pouca qualidade de vida:

As características mais estressantes do trabalho docente são: trabalho repetitivo, intensa concentração em uma mesma tarefa por um longo período, volume excessivo de trabalho, ritmo acelerado, interrupção das tarefas antes de serem concluídas, tempo insuficiente para realização das tarefas, falta de interesse dos colegas de trabalho, exposição a hostilidades, conflitos com colegas de trabalho e inexistência de processo democrático. (ROCHA; FERNANDES, 2008, p. 27).

Na profissão docente, o mal-estar chega de forma silenciosa, com as pequenas tensões do dia a dia que vão se acumulando e dificultando o prazer de exercer as suas atividades, levando ao esgotamento físico e mental, os quais podem influenciar no desejo por lecionar. Da mesma forma que esse processo surge com as pequenas dificuldades enfrentadas, cabe ao espaço escolar motivar esses profissionais para que exista o alívio de tensões, sendo um espaço em que as soluções sejam coletivas.

O desgaste do professor, não é algo que afeta apenas a sua própria vida, as suas atividades, anseios e vontades. É possível perceber, segundo Gonçalvez et al. (2008), que é um processo que afeta também a escola como um todo e principalmente os alunos, mesmo que de forma indireta:

[...] o cansaço e desgaste emocional e físico por parte dos professores, ao aproximar-se do fim do semestre letivo vai gradativamente aumentando seu nível de esgotamento, que muitas vezes pode ser sentido pelos alunos, uma vez que este desgaste reflete de forma significativa na aplicação dos conteúdos e aprendizagem dos alunos. (GONÇALVEZ et al, 2008, p. 4604).

Este processo de desgaste ocorre devido ao grande estresse e carga laboral de trabalho que o professor enfrenta durante o ano letivo e que se acumula até o fim do mesmo, afetando o aluno no que diz respeito a qualidade das aulas. Segundo as pesquisas realizadas por Reis et al. (2006), os professores acabam por demonstrar maior rispidez e nervosismo1 com os alunos, além de possuírem faltas mais frequentes e de maior número de atividades a serem cumpridas.

Diante disso, a profissão docente tem como lócus de seu desenvolvimento a escola, considerando que os saberes constituídos pelo docente, iniciados anteriormente a formação inicial, são apreendidos durante a sua carreira profissional, como afirma Mizukami (2013, p. 23):

A docência é uma profissão complexa e, tal como as demais profissões, é aprendida. Os processos de aprender a ensinar, de aprender a ser professor e de se desenvolver profissionalmente são lentos. Iniciam-se antes do espaço formativo dos cursos de licenciatura e prolongam-se por toda a vida, alimentados e transformados por diferentes experiências profissionais e de vida.

O fato de uma pessoa se tornar professor, demanda tempo e disposição, se prolongando por toda a vida. Portanto, o processo educativo que ocorre nas escolas legitima a profissão docente desenvolvendo saberes e trazendo ao professor um olhar individualizado, além de oportunizar o trabalho coletivo por meio da troca de experiências entre professores iniciantes e os que possuem mais tempo de profissão.

Essa troca de experiências, segundo Mizukami (2013), é essencial tanto para quem está iniciando a carreira, como para aquele professor mais experiente, pois ambos dispõem de experiências intelectuais e ideias renovadas sobre formas que possam auxiliar os alunos. Dessa maneira, compreende-se que essa troca de experiências, as quais podem ser realizadas no momento da formação contínua, podem auxiliar o professor a superar os sentimentos negativos que enfrenta cotidianamente, os quais geram o mal-estar docente.

Perfil dos sujeitos

A partir do questionário aplicado, o qual abordava questões quanto a idade, dados sobre a profissão, faixa salarial, entre outros; e entrevista realizada, pode-se traçar o perfil dos sujeitos. Verificou-se que todas são mulheres, as idades das professoras variam de vinte à cinquenta e nove anos de idade, sendo que quatro professoras possuem a idade de vinte e um à vinte e nove anos, quatro professoras com idade entre trinta á trinta e nove anos, quatro professoras com idade entre quarenta à quarenta e nove anos e duas professoras com idade de cinquenta à cinquenta e nove anos. As coordenadoras pedagógicas, uma com trinta e dois e outra com quarenta e três anos.

De um modo geral, diante dos questionários respondidos, observou-se que a maioria das professoras não se sentem valorizadas, bem como não possuem tempo suficiente para momentos de lazer, tais como, ida ao cinema, leitura diversas de livros e revistas.

Quanto à faixa salarial das professoras, percebe-se que das dezesseis professoras que responderam os questionários, três delas recebem até dois salários mínimos, doze recebem de dois a quatro salários mínimos e apenas uma recebe de quatro a seis salários mínimos, além de que todas responderam que lecionar é a ocupação principal.

Quanto a sua jornada de trabalho, doze responderam que trabalham quarenta horas semanais e quatro delas trabalham vinte horas semanais, além de que todas são efetivas. Além disso, todas possuem mais que cinco anos de serviço na profissão docente.

Analisando-se a formação de cada uma das docentes, onze possuem graduação, somada com mais uma especialização; três delas possuem apenas a graduação e uma possui apenas o magistério. Isso reflete também nas questões relacionadas as ferramentas de atualização, em que os dados coletados demonstram que as professoras que possuem graduação e especialização leem mais livros voltados a área, bem como possuem mais ferramentas de atualização, como assinaturas de revistas de educação, jornais e participam de cursos voltados à formação contínua.

Mal-estar docente: visão das professoras

O questionário aplicado continha sete questões abertas, as quais contemplavam perguntas relacionadas a relação do ambiente escolar com a saúde do professor, o afastamento de suas atividades por motivo de saúde, enfocando o esgotamento mental e psicológico, as múltiplas funções desempenhas dentro da escola e sala de aula, desmotivação profissional, vontade de desistir da profissão, entre outras.

Quanto as questões voltadas ao ambiente escolar e da forma como são resolvidas as situações de estresse, que podem vir a causar o desestímulo de profissionais docentes, de um modo geral, as professoras elencaram que o desgaste mental e psicológico, movimentos repetitivos, a tristeza e depressão são elementos que afetam sua saúde, estando relacionados com a falta de estrutura das escolas e alunos desrespeitosos. Percebe-se que isso afeta não somente a prática dos professores, como também a construção da sua própria identidade docente. Tais elementos são expressos nas respostas das professoras:

“O ambiente escolar afeta a saúde do professor devido aos desafios do docente em exercer múltiplas funções, lidar com conflitos extraescolares. Tudo isso gera um esgotamento físico e mental.” (P4, 2016).

“Quando trabalhamos em um ambiente calmo e acolhedor nos sentimos mais felizes. Mas quando temos alunos mal-educados e desinteressados em aprender, isso nos torna irritados e estressados.” (P16, 2016).

Isso demonstra que as docentes estão sentindo os reflexos que o ambiente de trabalho e sua sobrecarga ocasionam, afetando-as, não apenas pelo que ocorre dentro de sala de aula, mas por acúmulo de funções e demais fatores externos. Essas alterações podem ser motivos para a perda da identidade docente. Outra professora ainda cita:

“[...] existem muitas cobranças para os professores, porém falta estímulos por parte dos nossos superiores. A presença de políticas públicas no sistema educacional faz com que medidas educacionais sejam implantadas de forma autoritária, sem que haja discussão.” (P3, 2016).

A professora percebe que as situações ocorridas no interior da escola são também externas à escola, devido as políticas públicas educacionais, que acabam implantando ações que deixam o professor “engessado” em sala de aula, afetando a sua autonomia, portanto, acabam sentindo-se perdidas, deslocadas e ao mesmo tempo, com sua capacidade e sua identidade docente comprometida.

É possível perceber que as docentes estão sendo afetadas por situações que ocorrem no ambiente escolar, principalmente nas salas de aula, envolvendo questões de infraestrutura, trabalhos pedagógicos mal direcionados, falta de acompanhamento pedagógico de qualidade e também pelo acúmulo de funções.

Além disso, a hora-atividade, regulamentada pela Lei Federal nº 11.738/2008, sendo um momento em que o professor não tem contato com os alunos, desempenhando atividades de planejamento, formação continuada etc., é um elemento que pode auxiliar os professores nas sobrecargas laborais e consequentemente ter melhores condições de trabalho. No entanto, algumas professoras apontaram que o momento destinado à hora-atividade é insuficiente para todas as atividades que devem desempenhar dentro da escola, sendo relatado que, na maioria das vezes, é necessário levar trabalho para casa:

“Muitas vezes é necessário levar parecer para concluir em casa, planejamentos, lembranças de datas comemorativas, entre outros...” (P6, 2016).

“Falta de computadores, internet para aperfeiçoamento do planejamento.” (P7, 2016).

Compreende-se que o excesso de trabalho levado para casa ainda se deve também à falta de estrutura dentro da escola. Considerando a resposta da P7, um planejamento bem elaborado, com atividades diferenciadas, demanda pesquisa e reflexão por parte do professor e as atividades realizadas dentro do ambiente escolar, facilitariam para este buscar uma formação além da obtida, como cursos de extensão, pós-graduação e especialização, além de tempo de lazer.

Diante disso, cerca de 20% das docentes apontaram que tiveram afastamento do trabalho para tratar de doenças relacionadas ao esgotamento e depressão. Além da resposta afirmativa sobre o afastamento, a P5 complementou:

“Já sofri muita discriminação por ter esta doença. Colegas de trabalho não entendiam as minhas crises, achavam que estava fingindo. Atualmente estou medicada e me sinto melhor, mas até acertarem minha medicação, quanto eu sofri, só eu sei.” (P5, 2016).

O fato trazido pela P5 é apontado por Paparelli (2010, p. 317-318):

Na secretaria da escola, frequentemente há professores “disfarçados” de secretários. São readaptados, afastados de suas funções de origem por motivo de saúde. Quando não aposentados por invalidez, ou seja, quando não considerados inaptos para o desenvolvimento de qualquer atividade laboral, permanecem trabalhando na escola, porem realizando outra atividade. De modo geral, esse profissional é visto com desconfiança, dó ou desprezo pelos demais.

Assim sendo, evidencia-se que os profissionais afastados por motivos de doenças, ocasionadas pelo mal-estar docente, passam a enfrentar uma nova demanda de estresse, que está para além da sala de aula, como o enfrentamento do julgamento de seus colegas de trabalho e a falta de interesse por parte da coordenação pedagógica, fato apontando pela professora P4 em outro momento.

Desta forma, cabe a equipe gestora compreender o processo pelo qual o docente está enfrentando e mediar para que possua melhores condições em se recuperar, a fim de encontrar harmonia no ambiente de trabalho, fazendo com que se sintam valorizados e aceitos no meio.

O professor tem desempenhado inúmeras funções na sua profissão, o que pode levar aos sintomas de estresse, esgotamento físico, mental e depressão. Diante disso, as professoras P4, P8 e P9 nos trazem as seguintes afirmações:

“O professor desempenha múltiplas funções porque é no ambiente escolar que convivemos com um choque de emoções entre várias realidades, histórias sociais, principalmente de alunos. Nos vemos diante de situações inusitadas sem estar preparadas para enfrenta-las corretamente, na maioria das vezes.” (P4, 2016).

“[...] as crianças trazem de casa problemas que interferem no aprendizado, por tal situação tenta-se entender o que está acontecendo para que haja sucesso no aprendizado.” (P8, 2016).

“[...] psicólogo, mãe, enfermeiro, precisamos manter a calma. E ao olharmos para nossos alunos como seres sensíveis, termos um afeto [...]” (P9, 2016).

As professoras demonstram que, muitas vezes, os alunos acabam trazendo inúmeros problemas de casa, o que interfere no seu processo de aprendizagem. Além disso, compreendem que as mudanças ocorridas na sociedade afetam o âmbito da sala de aula, as quais influenciam na busca por soluções para que esse aluno tenha uma melhor aprendizagem. No entanto, tais elementos apontados pelas professoras podem afetar a sua prática docente, sua vida profissional e pessoal, aumentando suas cargas de estresse, assumindo esses desafios da escola para si, na tentativa de melhorar a qualidade do aprendizado dos alunos. Carlotto (2002, p. 23) afirma que:

O professor, neste processo, se depara com a necessidade de desempenhar vários papéis, muitas vezes contraditórios, que lhe exigem manter o equilíbrio em várias situações. Exige-se que seja companheiro e amigo do aluno, lhe proporcione apoio para o seu desenvolvimento pessoal, mas ao final do curso adote um papel de julgamento, contrário ao anterior. Deve estimular a autonomia do aluno, mas ao mesmo tempo pede que se acomode às regras do grupo e da instituição.

Nesta perspectiva, as professoras apontaram elementos que as fazem sentir desmotivada diante da profissão, tais como indisciplina e desinteresse dos alunos, falta de estrutura e material pedagógico na escola, baixo salário, falta de participação das famílias no processo de aprendizagem do aluno e falta de motivação. Entre esses elementos, a indisciplina foi apontada pela maioria dos sujeitos.

Refletindo ainda sobre a extensão do trabalho docente e suas atribuições, as professoras evidenciaram como percebem o papel do professor na contemporaneidade e o sentimento em relação a profissão. Assim, evidenciam-se as respostas a seguir:

“O papel do professor é essencial. É recompensador, gratificante. Porém a vontade de desistir existe, porque ultimamente não conseguimos colocar em prática o que estudamos e acreditamos ser o correto. Isso é frustrante.” (P15, 2016).

“Já senti vontade de desistir da profissão no início da carreira, porque levei um choque ao ver a realidade escolar. Atualmente me sinto bem como professora e consciente que há muitos obstáculos a ser contornados e práticas a serem aprimoradas.” (P4, 2016).

Como citado pelo autor, Libâneo (2004), algumas condições de trabalho, somados a desvalorização e a falta de prestígio social que a profissão docente vem enfrentando, acabam prejudicando na formação de sua identidade e também de futuros professores, tornando-os resistentes com a profissão e com dificuldades em relação ao engajamento da teoria e prática:

Se o professor perde o significado do trabalho tanto para si próprio como para a sociedade, ele perde a identidade com a sua profissão. O mal-estar, a frustração, a baixa autoestima são algumas consequências que podem resultar dessa perda de identidade profissional. (LIBÂNEO, 2004, p. 77).

Desta forma, quando o professor não se sente valorizado, apresenta a perda de sua identidade e também de saúde, influenciando em sua vontade de realizar atividades, de buscar conhecimento e até mesmo de demonstrar vontade em exercer a profissão.

A falta de formação continuada dentro das escolas, ocasiona uma certa dificuldade em discutir problemas pertinentes a realidade escolar, levando a um distanciamento entre teoria e prática, sobrecarregando o docente.

A formação continuada tem o papel de auxiliar os professores e coordenadores pedagógicos nas práticas escolares, de forma a discutir a realidade da escola buscando soluções, estabelecendo metas, organizando o trabalho pedagógico, tornando assim a escola um ambiente dialógico e democrático, em que o professor se sente pertencente e atuante.

Mal-estar docente: a percepção das coordenadoras pedagógicas

A entrevista realizada com as coordenadoras pedagógicas continha questões relacionadas ao mal-estar docente e a influência na organização do trabalho pedagógico. No aspecto referente à ausência dos professores e como isto afeta a rotina e organização da escola, as duas coordenadoras pedagógicas responderam que deixavam de realizar seus afazeres para entrar nas salas de aulas, ou também ter que mudar a organização da hora-atividade de algum professor para conseguir suprir a ausência de outro. Uma das coordenadoras pedagógicas relatou:

“É muito difícil quando faltam professores, a rotina da escola acaba comprometida. Compreendemos as necessidades de cada um, porém essa falta acaba mexendo com toda a escola, deslocando professores de hora-atividade ou até mesmo nós deixamos nossos afazeres de lado para entrar em sala de aula para ‘cobrir’ o professor que faltou.” (G1, 2016).

A equipe pedagógica tem que se reorganizar para atender a demanda mesmo com a ausência de seus professores, buscar maneiras para que a falta de um professor não afete o outro, pelo fato de muitas vezes não possuírem hora-atividade, a qual é um direito garantido por lei, como afirma Gonçalvez et al. (2007, p. 4604) “As consequências são diversas, pois os coordenadores têm que encontrar formas diferenciadas para suprir a falta de professores, a fim de que os alunos não fiquem sem aulas”.

As coordenadoras relataram que existe um grande número de faltas dos professores por aspectos relacionados à saúde. Assim, foi indagado quais ações eram realizadas pela escola para amenizar as queixas e também neste processo de afastamento do trabalho por motivo de saúde. As coordenadoras responderam que:

“Procuramos sempre orientar os professores e auxiliar quando não estão bem, isso faz com que eles se sintam mais aceitos e acolhidos.” (G1, 2016).

“Procuramos compreender a situação de cada profissional e auxilia-los no que está ao nosso alcance.” (G2, 2016).

Compreende-se, a partir da fala das coordenadoras que estas buscam auxiliar o professor neste processo de reinserção no ambiente de trabalho, o qual é essencial tendo em vista que, muitas vezes, estes professores encontram-se desmotivados e que demonstram o estresse devido sua profissão. Uma maneira de amenizar esse processo é por meio das formações continuadas, promovendo a reflexão sobre a própria prática e discussão para melhoria, como aponta Libâneo (2004, p. 78):

A formação continuada é uma maneira diferente de ver a capacitação profissional de professores. Ela visa o desenvolvimento pessoal e profissional mediante práticas de envolvimento dos professores na organização da escola, na organização e articulação do currículo, nas atividades de assistência pedagógico-didática junto com a coordenação pedagógica.

Ademais, as coordenadoras relataram que a escola não está preparada para trabalhar com as questões relacionadas ao adoecimento docente:

“Não estamos preparados para o adoecimento dos docentes, sabemos que ele pode aparecer a qualquer momento, e isso envolve toda a organização da escola, mas infelizmente não estamos preparadas.” (G1, 2016).

“Não estamos preparados para o adoecimento, pois normalmente ele chega e nos pega de surpresa e não temos tempo hábil para lidar com isso, temos que correr atrás de profissionais para substituir aquele que se afastou, também é bem complicado devido aos alunos que estão acostumados com a professora e se depara com outra, um agravante no processo de ensino aprendizagem.” (G2, 2016).

Compreende-se que mesmo buscando dar o suporte necessário ao professor, as escolas não estão preparadas para lidar com as situações que emergem referente à saúde do professor, especificamente o mal-estar docente.

Indagadas sobre as principais queixas das professoras, as coordenadoras pedagógicas apresentaram que, em ambas as escolas, as queixas são relacionadas a indisciplina dos alunos. Na escola B a coordenadora pedagógica G2 relatou que diversas professoras acabaram desistindo da vaga devido a esse fator:

“Em nossa escola esse é um problema frequente, as novas professoras que chegam não sabem trabalhar com a indisciplina dos alunos e diversas vezes acabam desistindo da vaga. As professoras mais antigas reclamam também de indisciplina, mas ainda sabem contornar as situações.” (G2, 2016).

As coordenadoras relataram que buscam trabalhar nas reuniões com os pais estratégias para superar a indisciplina, mas devido as várias funções que desempenham, o tempo acaba não sendo suficiente para desenvolver atividades mais aprofundadas:

“Procuramos passar em reuniões, vídeos de conscientização aos pais e entramos em sala de aula com frequência para que os alunos percebam a importância de auxiliar os professores no processo de ensino aprendizagem.” (G1, 2016).

“Devido ao tempo corrido acabamos não tendo tempo para realizar um trabalho mais a fundo com os pais, também pelo fator que a participação deles não é tão efetiva, são poucos os que participam o momento que temos é na entrega de boletins, sempre entro na sala e converso individualmente com os pais em relação a disciplina dos alunos.” (G2, 2016).

Percebe-se, a partir da fala das coordenadoras, que há um trabalho voltado para os pais e alunos, mas não existe um trabalho voltado para os professores, conforme mostram os dados, para que consigam superar a dificuldade de estar à frente de uma turma indisciplinada.

É importante que o coordenador pedagógico trabalhe junto com os professores, sendo essa uma de suas funções. Segundo Libâneo (2004), as funções que devem ser desempenhadas são:

Planejar, coordenar, gerir e acompanhar e avaliar todas as atividades pedagógicos-didáticas e curriculares da escola e da sala de aula, visando atingir níveis satisfatórios de qualidade cognitiva e operativa das aprendizagens dos alunos. (LIBÂNEO, 2004, p. 221).

Diante disso, percebemos a necessidade da formação continuada com os professores, a fim de refletir sobre o processo de indisciplina das turmas e encontrar soluções coletivas para essas situações. A formação contínua deve ser feita a partir de:

Ela se faz por meio do estudo, da reflexão, da discussão e da confrontação das experiências dos professores. É responsabilidade da instituição, mas também do próprio professor, porque o compromisso com a profissão requer que ele tome para si a responsabilidade com a própria formação. (LIBÂNEO, 2004, p. 229).

É de suma importância que os pedagogos acompanhem os professores e que também obtenham esse acompanhamento de órgãos superiores, para que as condições de estresse sejam minimizadas. Além de sempre acompanharem os processos que estão sendo desenvolvidos em sala, proporcionando formações continuadas, para que os professores se sintam amparados e acompanhados pela escola. O bom resultado de uma escola, se dá a partir do momento em que todos sentem-se parte daquele espaço e responsáveis pelos seus resultados.

Considerações finais

A partir desta pesquisa, pode-se evidenciar que as intensas mudanças tecnológicas, sociais e econômicas, as mudanças ocorridas no âmbito educacional têm afetado o cotidiano do professor. Assim, o professor como agente transformador, necessita se adaptar a novas demandas, a novos ambientes sem possuir, muitas vezes, o mínimo de apoio para passar por esses momentos.

Nesta perspectiva, o docente perde a identidade, devido a quantidade de responsabilidades desencadeadas a ele, a falta de apoio em momentos de conflito, questões salariais e profissionais influenciam gradativamente no processo da identidade profissional, sendo um dos fatores que levam o professor a desistir da carreira docente, bem como desestimula seus anseios quanto a profissão.

Esse fator de desistência e desestimulação profissional ocorre devido ao mal-estar docente, o qual afeta a saúde do professor, principalmente no que se refere ao aspecto psicológico. Assim sendo, muitos docentes acabam afastando-se do seu meio de trabalho devido a situações causadas pelo mal-estar ou até mesmo assumem outras funções menos exaustivas a eles no próprio ambiente escolar.

Por meio da coleta de dados, foi possível perceber que os professores encontram-se desestimulados, apontando para isso alguns fatores que interferem neste processo, tais como falta de estrutura, indisciplina dos alunos, falta de material pedagógico, baixa remuneração e participação dos pais. Assim sendo, as professoras demonstraram o desestímulo diante da profissão, em que algumas já necessitaram se afastar de sua função devido a causas relacionadas ao ambiente de trabalho, além de que já consideraram desistir da profissão

Os resultados da pesquisa revelaram que o fenômeno do mal-estar docente tem afetado as professoras e as mesmas percebem que isso reflete também sobre os alunos e comunidade escolar. Além de perceberem o ambiente escolar como um possível causador de adoecimento, compreendem que outro fator desta causa é o fato de desempenharem diversas funções junto a docência, que não estão inclusos em sua formação, como enfermeiros, cuidadores e até mesmo agente social, o que causa um sentimento de perda de identidade profissional.

As condições de trabalho interferem no mal-estar dos docentes, pois alteram seu humor, dificultam a sua socialização com os demais, além de interferirem na forma como auxiliam os alunos e no tratamento com os mesmos. Professores em estado de mal-estar, precisam de auxílio para passarem por essas intempéries da vida e carreira, os coordenadores e professores só conseguirão lidar com essas situações buscando o conhecimento, o que gera a necessidade de formação continuada.

Sendo assim, necessitamos de um processo de formação continuada mais vigoroso referente ao tema, para preparar professores e demais sujeitos que estão envolvidos no processo da educação, para lidar com as situações relacionadas ao mal-estar docente, bem como compreender e se solidarizar com o companheiro, evitando momentos de estresse e preconceitos.

Referências

BRASIL. Lei Federal nº 11.738, de 16 de julho de 2008. Brasília, 2008. Disponível em: . Acesso em: 13 mai. 2017.

CANTOS, G. A.; SILVA, M. R.; NUNES, S. R. L. Estresse e seu reflexo na saúde do professor. Saúde em revista, Piracicaba, v. 7, n. 15, p. 15-20, 2005. Disponível em: . Acesso em: 25 abr. 2017.

CARLOTTO, M. S. A Síndrome de Burnout e o trabalho docente. Psicologia em estudo, Maringá, v. 7, n.1, p. 21-29, jan./jun. 2002. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2017.

ESTEVE, J. M. O mal-estar docente: a-sala-de-aula e a saúde dos professores. Bauru: EDUSC, 1999.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.

GONÇALVEZ, J. P.; DAMLE, M. P.; SZYMANSKY, M. L. O mal-estar docente segundo a percepção de coordenadores pedagógicos da rede pública de Cascavel. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 8., 2008, Curitiba. Anais..., Curitiba: PUC, 2008. p. 4597-4606.

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.

LIMA, I. C. dos S; CARVALHO, M. V. C. Os significados e os sentidos do mal-estar docente na voz de uma professora de início de carreira. Olhar de professor, Ponta Grossa, v. 16, n. 2, p. 295-312, 2013. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2017.

MIZUKAMI, M. da N. Escola e desenvolvimento profissional da docência. In: GATTI, B. A. Por uma política nacional de formação de professores. São Paulo: Editora UNESP, 2013.

OLIVEIRA, D. A. A reestruturação do trabalho docente: precarização e flexibilização. Educação e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 89, p. 1127-1144, set./dez. 2004. Disponível em: . Acesso em: 12 mar. 2017.

PAPARELLI, R. Saúde mental relacionada ao trabalho: o caso de educadores da rede pública de ensino paulistana. São Paulo: Expressão Popular, 2010.

REIS, J. F. B. E.; ARAÚJO, M. T.; CARVALHO, M. F.; BARBALHO, L.; OLIVEIRA E SILVA, M. Docência e exaustão emocional. Educação e Sociedade, Campinas, v. 27, n. 94, p. 229-253, jan./abr. 2006. Disponível em: . Acesso em: 11 mar. 2017.

ROCHA, V. M. da; FERNANDES, M. H. Qualidade de vida de professores do ensino fundamental: uma perspectiva para a promoção da saúde do trabalhador. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, n. 57, v. 1, p. 23-27, 2008. Disponível em: . Acesso em: 09 mar. 2017.

Notas

* Graduada em Licenciatura em Pedagogia, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Coordenadora Pedagógica da Educação Básica da rede privada de Ensino, na cidade de Ponta Grossa.
** Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Professora Colaboradora da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
1 Nervosismo é uma reação ao estresse e está associado aos sentimentos de esgotamento, impaciência e frustração que emergem da experiência individual de contrariedade em exercer seu trabalho. (REIS et al., 2006, p. 233)

Autor notes

Graduada em Licenciatura em Pedagogia, pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Coordenadora Pedagógica da Educação Básica da rede privada de Ensino, na cidade de Ponta Grossa.
Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Professora Colaboradora da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
HMTL gerado a partir de XML JATS4R por

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)